O DIABO FOI PRO BAR


Eu tinha consciência que podia estar agindo como um maníaco. Mas como todo mundo é maníaco, segui observando a moça à distância. Ela estava na calçada, esperando alguém. Eu tomava minha cerveja do outro lado da rua. Estava apaixonado. Talvez ela também estivesse. Ou não. Talvez ela quisesse se apaixonar, por isso aquele vestido curto. Justo. Um semideus parado na calçada. Brilhava.
Então ela fez uma careta para o telefone e seguiu caminhando apressada. Fui atrás. Ela parou em uma esquina. Olhou novamente para o telefone. Senti sua tristeza sendo expelida pela sua aura. Ela entrou em um bar. Eu adoro mulheres que entram em bares sozinhas. Confiantes. Independentes, saca? Aliás, adoro todas as pessoas que entram em algum bar sozinhas, ao contrário de quem sente medo de um pouco de solidão e suga o espírito de terceiros. Gente perigosa essa. Bem, mas ela estava lá. Assim como eu também, minutos depois dela entrar. Mas não a encontrei. Pedi um drink e ouvi um sussurro.
- Você é maníaco, ou o quê?
Me virei e me deparei com os olhos gigantes da minha obsessão. Olhos do diabo. Quentes e revigorantes como um show dos Stones, apesar de eu nunca ter ido a um show deles.
- Sou – respondi.
Ela encostou sua boca de leve na minha e falou que era mais maníaca e tomou todo meu drink e me puxou pelo braço até a entrada do banheiro.
Ela tirou duas pílulas cor-de-rosa da bolsa. Tomou uma e me ofereceu outra. Engoli e nos beijamos. Senti que ficava como se estivesse com febre. Quando abri os olhos havia outra garota ao lado dela. As duas começaram a se beijar. Pararam e me encararam.
- Vai lá buscar algo pra bebermos.
Voltei para o bar e não havia mais ninguém. A música continuava. Mas o bar vazio. Voltei para o banheiro. Vazio. Me sentia meio tonto. Fui até o bar e servi eu mesmo uma dose de Jack Daniel’s. A música parou. As luzes apagaram e eu dormi esperando que, ao acordar, estivesse em minha casa para convidar alguém que fizesse com que eu não fosse mais sozinho no bar.