EXERCITANDO O DESAPEGO


Quando chegamos na sua casa, levei um susto ao descobrir que ela não tinha tevê. Na verdade, nem poltronas. Sequer cadeiras. Apenas algumas almofadas espalhadas pelo chão.
- Fica à vontade – ela disse.
O problema é que pessoas gordas como eu, têm dificuldades para sentarem-se no chão. Falta flexibilidade, o estômago esmaga. Dá falta de ar. Uma vez vomitei em um restaurante japonês, onde as mesas eram daquelas baixinhas, e é preciso sentar-se no chão em almofadinhas. Sem contar que a comida era uma bosta. Talvez fossem as pessoas presentes que a tornavam indigesta. De qualquer forma, ali estava eu já passando mal no chão da casa da Vera enquanto ela voltava da cozinha com uma garrafa de vinho.
- Você está suando. Tá tudo legal?
- Tô bem, tô bem – sorri envergonhado.
- Então, o que achou da minha casa?
- Muito legal... alternativa ela, né?
- Ai, sim. Eu aprendi a me desapegar, sabe? Você já parou para se perguntar do que você realmente precisa para viver? Faça um teste. Pense em tudo o que você tem. Você realmente NECESSITA disso tudo? Claro que não.
Haviam me dito que Vera estava numa onda de desapego depois que começou ler uns livros baratos de budismo. Eu só não imaginava que ela já estaria naquele nível em que parte do cérebro já está tomado por uma ilusão de que sua vida mudou, quando na verdade continua e continuará na mesma.
- Li esses dias que uma mulher largou tudo, vendeu seus bens e foi para o Tibet. Hoje ela é mestre de Yoga – continuava incansável.
Vera levantou-se e começou a mostrar algumas posições de Yoga que estava aprendendo. Mas então ela escorregou e bateu com a cabeça. Apagou na hora. Vi que respirava e aproveitei para ir embora dali, fazendo meu primeiro exercícios de desapego.

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