MAL ENTENDIDO


Ele apareceu tropeçando e quase caindo sobre minha mesa. Completamente bêbado.
- Acabei – falou.

- Que bom. Agora te controla.
Ele soltou uma risada e todos olharam. O chutei por de baixo da mesa.
- Acabei – repetiu.
- Entendi, porra. Não precisa repetir.
- Se entendeu, deve entender também que agora você está me devendo.
- Vamos lá buscar a grana – falei, me levantando.
Tive que segurá-lo pelo braço para não cair de bêbado. Suas calças estavam molhadas. Estava tão humilhante quanto as pessoas que trabalham dez horas por dia e ainda aceitam deixar suas famílias em casa para fazerem horas extras enquanto o chefe está no motel com a estagiária.
Quando chegamos no carro, tive que revistá-lo. Nada. Então liguei para o Matias. Ele não imaginava que eu tinha um contato como Matias. E como era de se esperar, o serviço não havia sido feito.
- Você conhece o Matias? – perguntei com muita calma.
Ele emitiu um sussurro incompreensível de bêbado.
- Pois ele é o cara que acabou de autorizar o teu assassinato por não ter feito o nosso combinado.
- Eu fiz. Onde está a grana?
Dei um tiro em seu peito e o joguei para dentro do porta-malas. Meu telefone tocou. Era o Matias.
- Cara, houve um engano – disse ele. – O serviço foi feito, sim.
Acendi um cigarro esperando o sol nascer e liguei para Lisi para avisar que eu chegaria mais tarde.

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