O MILAGRE


Tirei o dia para ficar absolutamente à toa. Comprei cervejas e liguei para Lívia. Ela também gostava de ficar à toa. Na verdade todas as pessoas gostam de ficar à toa. Se alimentar do ócio. Mas preferem enganar-se e pensar que são úteis em alguma coisa.

Lívia apareceu junto com outra mulher. Mais alta do que ela. Mais bonita. 

- Oi – falou. – Esta é minha amiga Laura.

- Oi, Laura – falei.

Ela sorriu, mas não falou nada. Parecia não entender direito. Parecia meio imbecil.

- Ela é surda e muda – contou Lívia. – Ficou assim depois de um acidente.

Fui buscar mais cervejas, e quando me virei, a surda e muda estava parada atrás de mim. Tomei um susto e ela me beijou. Fomos para cama. Ela emitia uns ruídos estranhos, como se quisesse falar alguma coisa. Quando estava em êxtase, soltou um grito. E começou a falar e a chorar de emoção.

- Estou falando – dizia emocionada. – E ouvindo. Muito obrigada.

- Não foi nada, baby – eu disse, todo orgulhoso, enquanto acendia um cigarro.

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