SÓ É PRECISO DE ALGUMAS DOSES DE INFLUÊNCIA

Ele estava com a barba por fazer há semanas.
- Por que não corta essa barba?
- Acho que nós precisamos nos desapegar desse mundinho que estamos habituados, saca?
- Não saco. O que é isso?
- Um ukulele – respondeu. – E começou a dedilhar o instrumento com os olhos fechados.
Ela ficou observando aquilo por alguns segundo como se estivesse enxergando algo estranho.
- Eu conheci outro cara, SACA?
- O amor é assim, deve ser compartilhado.
Ela suspirou irritada e foi até a geladeira pegar uma cerveja. Quando voltou ele estava completamente pelado no sofá.
- Que porra é essa?
- Isto é a natureza. Você não saca a natureza?

Ela estava sentindo aquela vergonha alheia. Aquela que sentimos quando vemos algum imbecil fazendo algo imbecil. Afinal, ele sempre odiou toda aquela postura ativista-hippie-sustentável-amo-todo-mundo. Até ler uma reportagem onde afirmavam que isso era uma tendência. Esse era o fato que ela não engolia. Saber que ele não era aquilo.
 Ficou mamando sua cerveja esticada no sofá, refletindo sobre o quanto as pessoas são influenciáveis. Acabou a bebida e arrumou suas coisas.
- Tchau, pra ti. Enfia esse uku... enfia esse troço na bunda.
Saiu batendo a porta.

Ele deitou-se no chão. Pegou o instrumento e o encarou com um olhar meio duvidoso.

Sorte que ela já havia indo embora.

Nenhum comentário: